Por todas elas
As mulheres marcharam pelo fim da cultura do estupro
Publicado em 06/2016
O dia 1° de junho de 2016 ficou marcado na memória das brasileiras. Esse foi o dia em que milhares de mulheres fizeram barulho para denunciar a cultura do estupro, no ato batizado #PorTodasElas, pouco mais de uma semana depois que uma jovem de 16 anos foi violentada por 33 homens em uma comunidade na Zona Oeste do Rio de Janeiro – além de ser humilhada com a publicação de um vídeo do crime na internet.
A Avenida Paulista, porém, foi invadida pelas minas no fim da tarde de quarta-feira. Elas queriam chamar a atenção do país e das autoridades para a gravidade do problema e exigir soluções. “Acharam que seriam 33 contra uma. Mas são 33 contra todas”, gritaram, em coro, as 15 mil mulheres que participaram do ato. As garotas e mulheres saíram às ruas carregando cartazes. Algumas tinham o corpo pintado com frases de ordem, as estudantes vestiam uniformes escolares e outras simplesmente usaram a nudez como ferramenta de discurso. Foi um movimento plural. Jovens, adultas, mães e até avós se uniram para mandar uma única mensagem: a de que o corpo feminino pertence somente a elas mesmas.
Com partida do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), as mulheres marcharam pela Rua Augusta entoando gritos feministas e sendo seguidas por olhares curiosos. Muitos cantos reforçaram a posição política do movimento contra o presidente interino Michel Temer e o presidente afastado da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, este segundo autor do PL- 5069, que trata da atenção a vítimas de abuso sexual e que, se aprovado, pode dificultar o aborto legal nesses casos. “Somos contra esse projeto de lei que dificulta o acesso das vítimas ao atendimento médico. Temer é aliado de Cunha, portanto, esse golpe não nos representa. O atual governo não fala pelas mulheres”, afirmou durante o protesto Maria das Neves, Diretora de Jovens Feministas da União da Juventude Socialista, uma das lideranças do ato.
Para lembrar o caso que gerou comoção nacional e foi estopim para a ação, as manifestantes fizeram diversas referências à dor da adolescente estuprada por 33 homens. A mais emocionante delas foi a contagem em coro até 33, seguida de gritos emblemáticos do movimento feminista. “Mexeu com uma, mexeu com todas!”, bradaram as mulheres. “Se cuida, se cuida seu machista, a América Latina vai ser toda feminista!” e “legaliza, o corpo é nosso! É nossa escolha e é pela vida das mulheres” foram ainda outros cantos de guerra entoados noite a dentro.
Algumas mulheres deram as mãos para fazer cordões de isolamento ao redor de mães que carregaram seus bebês pela manifestação, em uma demonstração emocionante de sororidade, talvez um dos mais importantes pactos entre as mulheres. “Companheira, me ajude, pois não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor”, cantaram as manifestantes, como se fosse um hino.
O que se ouviu na quarta-feira não foram apenas frases de efeito. Foram gritos de liberdade, de socorro e palavras que confortaram aquelas que sentem-se vítimas de seu próprio gênero. Por muito tempo, as mulheres foram silenciadas pela sociedade patriarcal. Diversos casos semelhantes ao da menina da Zona Oeste foram abafados e, muitas vezes, tiveram sua culpa atribuída à própria mulher. De vítima, a estuprada passava a ser cúmplice ou culpada. Mas esse tipo de atitude não será mais norma. O filme de terror se transformou na semente de uma mudança. Agora, as mulheres estão iradas e têm o poder das redes sociais nas suas mãos. A violência não será mais tolerada.
Machismo mata. O feminismo liberta.