Mulheres que Fotografam: Helen Salomão
De quase advogada a fotógrafa que usa a estética como empoderamento e política
Publicado em 03/2018
Ir à Bahia nunca é demais, principalmente se for pra conhecer e admirar o trabalho de uma mulher incrível - no caso, a fotógrafa Helen Salomão, também conhecida como Helemozão. Mas não pense que por ser baiana de Salvador o trabalho dela é cheio de fitas do Bonfim, do Pelourinho e do Olodum - inclusive, abra essa cabecinha aí pra ir além dos clichês.
Helen fotografa a realidade, principalmente as mulheres reais, a beleza negra e as comunidades por onde passa, mas longe do olhar dramático, cheio de tragédia e dor. Ela gosta mesmo é de usar "a estética como empoderamento e política", sempre envolta numa atmosfera e em cores de sonho e brisa leve tocando o rosto. Desce aí pra ver!
Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Comecei a fotografar com 17 anos. Tudo começou sem pretensões. Eu era jovem aprendiz no Fórum aqui da minha cidade e o meu sonho era ser advogada, naquele momento foi a oportunidade mais feliz que eu tivera conquistado. Mas, com o passar dos meses, fui entendendo que aquela não poderia ser a minha profissão, pois tudo o que eu pensava ser justiça era o oposto na prática.
Eu sempre amei arte, pensei por muito tempo em fazer design , amava desenhar, mas as pessoas diziam que a arte não era para mim. Até porque eu sou mulher, de comunidade, negra, de poucas oportunidades, como viver de arte? E não só viver, mas como viver bem, sem passar privações, ser aceita em espaços, ter direito a fala e protagonismo?
Ainda no jovem aprendiz, um conhecido apareceu vendendo uma câmera semi profissional, e eu decidir comprar. Queria realmente me relacionar melhor com a arte, mas não tinha nenhuma referência de fotógrafos, nem nunca tinha sonhado com essa profissão. Comecei a estudar sozinha e a cada dia o interesse foi aumentando. Quando vi, já estava apaixonada.
Depois de ficar um ano estudando num pré-vestibular, não consegui passar no curso de design, mas o pré-vestibular me ajudou a entender quem eu era, quais eram as minhas ideologias e saber de histórias que não estavam nos livros. Logo depois, tive a oportunidade de entrar num curso de arte e tecnologia e foi aí que me tornei, além de fotógrafa, artista e descobri que poderia falar através da minha arte e ser espaço de fala. Foi daí que comecei a mostrar mulheres reais, a beleza negra, a minha vida, as comunidades que passo, que vivo, sem mostrar tragédia e dor, falando de pessoas para além de números e estatísticas, usando a estética como empoderamento e política.
Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Desde que aceitei a fotografia na minha vida, só trabalho com ela.
Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? Comecei fotografando sozinha, vendo vídeos técnicos na internet, e depois fiz um curso técnico de arte e tecnologia (no Oi Kabum), que me ajudou a entender qual era o papel da fotografia na minha vida. Foi aí que comecei a usar a fotografia como artivismo, a fazer meus projetos autorais e saber que a arte já tinha me escolhido antes mesmo de eu aceitá- la.
Qual equipamento você usa? 6D e 60D, da Canon, e analógicas emprestadas hahaha.
O que você mais curte fotografar? Eu gosto de fotografar a rua e o que a compõe, é o que chamo de fotopoesia/ fotoconexão. É estar nos lugares e conhecer as pessoas e saber as histórias delas e dos lugares, é a troca, e isso não necessariamente pode render um clique, pode ser apenas uma fotografia com os olhos armazenada num cartão chamado memória pessoal.
Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Fazia projetos por ano, projetos que discutiam a diversidade do corpo gordo e tons de pele negra, a liberdade e poesia do corpo feminino, periferia sem sangue e buscando colocar cada um como protagonista da sua própria história. Ano passado, fiz o Casa Corpo Pele Parede, um projeto fotopoético que nasceu através de um escrito poético e logo depois surgiu o ensaio, que conta vivências de mulheres, focando nas experiências do seu corpo, marcadas na pele. Cada mulher fotografada fala, em um pequeno texto, sobre esse corpo, sobre suas histórias marcadas na pele, como elas se sentem e como as pessoas as veem.
Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. São as mulheres que eu encontro na vida, que estão perto de mim, é a minha mãe, é a minha avó.
Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia no Brasil? Porque somos a maioria, mas sabemos quem ainda está no topo da pirâmide.
Pra ver mais e acompanhar o trabalho da Helen, segue lá no Instagram e no Facebook.