'Oroboro': o olhar de quem explora a cidade pedalando
Primeiro curta da trilogia viaja por Buenos Aires na garupa de Suryan Cury
Publicado em 09/2017
Se quem tem boca vai a Roma, quem tem bicicleta vai pra onde quiser. Que o diga Suryan Cury, que já pedalou pelo Chile, Uruguai, Argentina e mais trocentos países europeus. Do desejo de registrar a relação única do fotógrafo com o universo das duas rodas, Alexandre Marcondes recrutou o parceiro David Argentino para produzir a trilogia de curtas “Oroboro”.
O primeiro filme foi lançado nesse fim de semana, no nu.miolo, na Lapa, numa noite que levou o protagonismo da bicicleta para fora da tela. Rolaram competições de bate-volta, oficina de pequenos reparos com a galera da Triciclo, trilha sonora do Bicistudio, coletivo que faz festas de rua com sistemas de som sobre duas rodas, além, é claro, da exibição do curta, rodado em Buenos Aires, quando Suryan estava morando por lá, em novembro de 2014, com Alexandre na direção e David na direção de fotografia.
“Gosto muito de esportes e, desde moleque, sempre tive muita vontade de fazer filmes relacionados a esportes de ação. Na época eu estava assistindo muito filmes de bicicleta e conversava muito com o David sobre transformar o Suryan num personagem de algum filme meu. Já que, também nessa época, ele estava fazendo muita coisa legal de bike, viagens longas para lugares muito interessantes”, conta.
Além de ser seu primeiro filme 100% autoral, “Oroboro” marcou um período de transformação na vida pessoal de Marcondes. “Queria explorar um pouco a minha visão. Na verdade, eu precisava muito disso. E isso realmente marcou uma grande transformação pra mim, que vinha de um longo período de depressão”, recorda.
“Esse foi o primeiro filme autoral que pude chamar de 100% meu. Claro, a produção foi uma parceria minha com David e Suryan, mas pude escrever e dirigir bem do jeitinho que eu queria. A gente queria explorar de um jeito diferente essas histórias que o Suryan trazia das mega pedaladas que dava pelo mundo e juntar isso com uma visão documental mais lúdica e bem subjetiva”, explica o diretor, que, em todos os filmes da série, deixa a história correr o mais natural possível para entender e transmitir o olhar do protagonista.
Quem vê a suavidade com que Suryan pedala pelas ruas de Buenos Aires não imagina os perrengues que rolaram nos bastidores pra que tudo parecesse tão nice. As fortes emoções começaram antes mesmo de Marcondes e David pisarem em Buenos Aires. O avião passou por uma tempestade muito forte, daquelas que até os comissários de bordo achavam que iam morrer, precisou aterrissar no Uruguai e só no dia seguinte seguir para a capital argentina
“Passamos a noite com fome ‘dormindo’ no chão do aeroporto de Montevidéu. E isso já diminuiu em dois dias o tempo de produção, antes mesmo da gente começar a filmar. Nunca estive em um projeto que deu tanta coisa errada. Na verdade, eu cheguei a desistir no meio das filmagens. Teve um dia que eu dei por encerrado o projeto. Mas no dia seguintes os dois me pilharam de voltar a rodar e fazer o que fosse possível”, comenta Marcondes.
Como você pode ver no filme, ainda bem que eles não desistiram! Os próximos curtas da trilogia, rodados em Santiago, no Chile, e aqui no Rio, serão lançados em outubro e novembro, respectivamente. Um filme novo por mês, para que as pessoas se envolvam mais com a história e não tenham tempo de esquecer as viagens anteriores. E você aí achando que só a Anitta tinha uma estratégia audiosivisual “ousada” assim, pfffffff.