I Hate Flash no Lollapalooza
Como é que é esse lance de ser 'cobertura oficial'?
Publicado em 04/2013
Passada uma semana certamente você já viu, ouviu e leu uma centena de opiniões sobre o Lollapalooza. Depoimentos apaixonados (ou decepcionados) sobre os shows, histórias de gente pirando (no comportamento ou no visual), e por aí vai. Mas a gente estava lá, no olho do furacão, e tem uma perspectiva diferente para escrever sobre: a experiência da cobertura oficial de um festival desse tamanho.
Esse não foi o primeiro festival que fotografamos, longe disso. Essa lista de festivais cresce todo ano. Somos apaixonados de verdade por esse tipo de cobertura. Esse, porém, foi diferente. Assumimos 100% das necessidades de fotos do evento, desde patrocinadores e infra-estrutura, até todos os palcos e shows. Isso tudo funcionando sob a supervisão direta da galera que já faz o festival em Chicago. Bota pressão nisso!
A correria é insana, e começa antes do festival abrir as portas, nos preparativos para organizarmos um workflow que seja eficiente o bastante para alimentar as diferentes mídias que vão usar nossas fotos: Mídias sociais, imprensa digital e impressa. São vários formatos, cada um com sua urgência. Tudo é planejado antes, como 'fotografar em raw ou jpg', 'quantos editores e quanto de edição' ou 'quantos fotógrafos são necessários'.
Algo difícil de lembrar é a importância da organização do conteúdo: nomes dos arquivos, tags, metadados. Isso é de enorme importância para manter a ordem. Faz a matemática: trabalhando cerca de 10 horas diárias, com uma equipe de 8 fotógrafos, fazendo uma média de 100 fotos por hora, temos 8.000 fotos a serem selecionadas e editadas por dia. Se não estiver bem organizado, muita coisa se perde.
Enfim o festival começa. Mapeamos os shows e decidimos qual fotógrafo vai para qual palco. É uma mistura de gosto pessoal com logística de horários e distâncias. É muito importante incentivar cada fotógrafo criativamente, fazer com que todos passem por todos os palcos, se empolguem com os shows, caminhem pelo meio da galera, vejam e se sintam parte do público. Essa é a premissa de tudo que fazemos por aqui no I Hate Flash, e funciona incrivelmente bem na hora de tirar o melhor de cada um.
Ah! Ainda tem um elemento chave nisso tudo, ser legal. Pode parecer um pouco fora de moda, mas ser legal com todo mundo é essencial, desde seguranças até gerentes de palco, de público até os artistas em si. Todo mundo pode te ajudar, mas ninguém tem essa obrigação. Em um evento desse porte a tensão é gigantesca e constante, e a comunicação é precária. Na hora do vamo ver não tem essa de hierarquia, quem pode isso ou pode aquilo, quanto menos fatores de risco perto do palco (fotógrafos e cinegrafistas inclusos), melhor pra todo mundo. Conquistar a confiança das pessoas certas é o que abre as portas para pegar um cantinho do palco na hora certa, ficar quieto em um canto fotografando uma banda que não quer ser fotografada, e por aí vai. É assim que fotos como essa acontecem.
Como ninguém é de ferro, a vontade de curtir os shows como público é inevitável. E mesmo não sendo o caso (infelizmente) de abrirmos uma roda entre os fotógrafos, a gente se diverte à vera. Mas na maioria das vezes não rola assistir shows inteiros. É sair do pit, ir correndo entregar o cartão e já passar para outro palco onde começou algo paralelo.
Uma das grandes vantages em ser oficial é poder (de vez em quando) ir além das 3 primeiras músicas liberadas para a imprensa, circular no backstage e caçar imagens exclusivas. Uma outra facilidade fudida são os runners, galera que circula o festival trocando nossos cartões, levando e trazendo lentes e sendo olheiros de coisas interessantes. Com essas facilidades dá pra se dar ao luxo de eventualmente curtir um ou outro show inteiro e, não vamos mentir, aproveitamos isso ao máximo.
Especificamente sobre o Lolla temos alguns shows que nos marcaram mais. O Two Door Cinema Club, no segundo dia, que teve melhor clima e por do sol, rendeu imagens incríveis. O Steve Aoki, que nos deu liberdade total para explorar o palco. O Major Lazer, que fez uma farra sem igual. Os shows de amigos, como o Wannabe Jalva, Copacabana Club, Holger, Vanguart, DJ Marky, Mixhell e Database, que além de mandarem muito, sempre nos dão oportunidades para fotos exclusivas. O Criolo, que calhou em um momento sem muita pressão, e que vários dos nossos puderam assistir quase por completo (e que show!). O Planet Hemp, que também abriu o palco pra gente fotografar. O Kaiser Chiefs, enlouquecido. O The Hives, puta performático. O Of Monsters and Men, final de tarde chuvoso e ventando, que nem o som deles. O Crystal Castles, diva. O DeadMau5, com os fãs mais fiéis. E as ótimas surpresas do Gary Clark Jr. e o Alabama Shakes.
Sobre equipamento: É importante ter mobilidade, então carregar muitas lentes é custoso. Por outro lado somos apaixonados por lentes fixas, que são pouco versáteis mas tem melhor definição, contraste, bokeh, são mais claras e por aí vai. Então enfrentamos um dilema. No final das contas cada um acaba carregando sua 70-200mm (teleobjetiva multi-uso, amiga para todas as horas e inevitável em eventos grandes) e mais duas lentes, que variam conforme o que forem fotografar. 35mm/50mm para looks, pessoas e 'experiência', fisheye/14mm/24mm para fotos abertas de público e ambientes e 85mm para retratos fechados.
Muita gente questiona: "E como vocês conseguiram isso?", como se fosse uma jogada de sorte, uma artimanha social ou qualquer coisa que o valha. Mas a verdade é muito simples: Sempre quisemos viver disso, então começamos por conta própria a fotografar todos os festivais que apareciam e investir nosso tempo e dinheiro para estarmos sempre presentes, até que passamos a ser notados e nos tornamos referência. E aí é simples, focar em fazer um trabalho bem feito, original e apaixonado, e deixar isso ser nosso marketing.
Resumindo: A gente se fode mas se diverte para caralho.