O poder delas: das mina e da Baixada
Em Caxias, Festival Rider #DáPRAFAZER escancara o dom fazedor feminino e da Baixada Fluminense
Publicado em 04/2017
Se fosse preciso definir o que rolou nas quinze horas de Festival Rider #DáPRAFAZER em Caxias em uma palavra, seria “poder”, especialmente o poder da mulher - e não é à toa que chamamos a Baixada Fluminense pelo artigo feminino.
Que nos perdoem os caras que movimentam o rolê, mas, seja no balcão, no palcão ou na pista, as mulheres incendiaram o Soma Hub, local escolhido para receber a terceira edição do festival da Rider.
Os três murais de grafites feitos ao vivo pela 400ML Crew já passavam a mensagem: “Lugar de Mulher É Onde Ela Quiser”. E elas ocuparam cada canto. No Circo Indie, as meninas do Brechó Gambiarra, Tay Oliveira, Clara Rodrigues e Carol Tavares, vendiam seus garimpos e chocolates eróticos. Cria da Baixada, o projeto é responsável pela reunião de mais de 20 brechós da região, além de marcas independentes, em eventos bimestrais, que sempre rolam em Nova Iguaçu.
“Somos um brechó itinerante feito por três feministas. Nós prezamos muito pela produção de mulheres. Sempre com mulheres e a galera da Baixada”, nos contou Tay, que também atende por Taya, em seu canal do Youtube. Os próximos passos do Gambiarra são se transformar oficialmente em produtora, produzir festas e lançar a marca própria. Fica ligado, aqui é rolê de fazedor mesmo, ninguém tá de bobeira.
No segundo andar do Soma Hub, as meninas da coletiva Raxa convidaram a poetisa paulista Mel Duarte e a atriz Luellem de Castro, que, aliás, é nascida e criada na Baixada, para uma roda de conversa sobre a vivência de mulheres negras, mediada por Ana Paula Paulino. O papo, que inicialmente duraria uma hora, rolou solto por quase quatro, q-u-a-t-r-o, horas sem arrefecer.
E as pautas foram muitas: das influências de suas mães, aos obstáculos enfrentados na adolescência, passando pela importância da geração tombamento e de se manter atenta e pesquisando - afinal, a estética e a moda são importantes para reforçar e manter a auto estima em alta, mas não devem ser tudo. A troca de experiências e ensinamentos promoveu um verdadeiro encontro de gerações e até a mãe da Ana Paula entrou na roda
A efervescência era tanta que, em um intervalo da programação, já depois do final da roda, Mel armou um sarau improvisado ao lado do Circo Indie. Um microfone livre e um palco montado com três pallets, rodeado por algumas cadeiras, foram o suficiente para a galera fazer acontecer e dar o seu papo. Dividindo a mesma cadeira de praia, duas meninas, de não mais de 10 anos de idade, ouviam atentas o que mulheres fortes e empoderadas tinham a dizer, recitar e cantar.
Diversas trocas de experiência deixaram a galera com a cabeça fervendo de ideias e pronta para colocar a mão na massa. O cineclube Mate com Angú, que acabou de completar 15 anos no corre, convidou José Alsanne, do Canal Plá, Pamella Ahnitram, do cineclube Xuxu com Xis, e Victor Gracciano, do cineclube Guerrilha da Baixada, para falar sobre a cena audiovisual e as representações da imagem da região.
O movimento cineclubista local colocou a Baixada no mapa e desenvolve diversas oficinas, que estimulam a galera a produzir filmes que criam uma identidade imagética da Baixada Fluminense e a projetam para o resto do estado, do país e do mundo. É muita responsa!
Nós, do I Hate Flash, colamos nos parceiros do Cena BXD para promover uma oficina de fotografia. Rodrigo Costa, do Cena BXD, contou sua experiência fotografando na Baixada, enquanto nosso Suryan Cury falou sobre a sua relação com a criação de imagens e desmistificou: fotografia é todo dia, é registro, é memória e qualquer um pode fazer.
Para provar isso, o Cena BXD selecionou seis jovens, entre 15 e 18 anos, para uma incursão prática: cada um recebeu uma das nossas câmeras analógicas com a missão de exercitar seu olhar fotográfico durante uma semana. O resultado, todos nós vamos descobrir em um zine que será publicado aqui assim que os filmes forem revelados.
O Palcão começou a bombar cedo: logo depois do almoço os Beach Combers já estavam tocando e fazendo a geral pular no meio da Rua General Câmara. O Papo de Roda selecionou os finalistas da batalha de rima, que vão competir pelo prêmio de R$ 10 mil na semana que vem, quando o festival chegar na Praia da Macumba, no Recreio.
A noite caiu e, com ela, a chuva chegou, mas nem ela foi motivo para parar de dançar ao som do DJ Kajaman. Quem não queria se molhar, entrou na Soma Hub para continuar dançando - e aproveitou para mirar naquele flerte. A galera foi à loucura quando ele lançou um dos hits de Rincon Sapiência, já aquecendo todo mundo pro show irado que o cara fez algumas horas mais tarde. A Bananobike seduziu todo mundo por onde passou com seu cortejo de LEDs multicoloridos e hits dos anos 80. Era selfie pra tudo que é lado!
Rincon Sapiência chegou a convite do Heavy Baile e parou Caxias, literalmente. Era tanta vontade de vê-lo de perto e cantar todas as músicas que o pessoal ocupou a rua - e ajudou quem passava por ali de ônibus a curtir por mais alguns minutos.
A dobradinha Heavy Baile + Raxa chegou pesada e brilhou: Leo Justi, MC Tchelinho, Johnny Ice e Dorly do lado de lá e DJ Tamy e Evehive do lado de cá não pouparam nenhum bumbum parado, era impossível não rebolar. As mina d’ABRONCA chegaram de assalto, dominaram o palco, mandaram o papo e mostraram que mulher é um bicho poderoso quando está junto. Arrepiante!
Quando bateu a meia-noite, nada de virar abóbora: Tropitek Cru convidou BBWJU e Babydot, Autonomia, Lagang Rap, SD”, SOS, Gaber KTT, Lekin, Torrxs e Dree Beatmaker para um DJ set dentro da Soma Hub, que só acabou lá pras três da manhã! Haja fôlego!
Ficou com vontade de ser parte disso tudo, né? Então se liga que no sábado que vem, 8 de abril, o Festival Rider #DáPRAFAZER cola na Praia da Macumba para sua (infelizmente) última edição. A programação completa rola sempre na página da Rider no Facebook, confere aqui!