Doc ‘Boxe Z/L’ conta histórias de cinco atletas da Zona Leste de São Paulo
Campeões do esporte precisam conciliar treinos com o ganha-pão da família
Publicado em 05/2017
“O boxe está morrendo”, diz o produtor Weverson Da Silva, em meio ao fascínio e a preocupação diante do cenário que enxerga para o esporte no Brasil, dada a perda de protagonismo comercial para o UFC.
A experiência de Weverson vem de uma imersão recente na Zona Leste de São Paulo. Por lá, conheceu a história de cinco boxeadores invictos e enxergou ali a possibilidade de mostrar a realidade de atletas basicamente anônimos que conjugam treinamentos de alto rendimento com a necessidade básica de colocar dinheiro em casa, alimentar seus filhos e obter uma renda minimamente digna e que, muitas vezes, não chega pelo suor das luvas.
Surgiu então, da vivência de Weverson pelos ringues da Zona Leste, o projeto do documentário “Boxe ZL”, uma coprodução do I Hate Flash com o TORO Creative Studio e as produtoras Node e Destilaria, do Paraná, além da Mémoire Films, produtora de Weverson. O lançamento do documentário no Rio de Janeiro vai rolar neste sábado (6), na Void Madureira, das 18h às 22h - todos os detalhes estão no evento, no Facebook, clica aqui.
“Tenho um amigo, o Diego Freire (roteirista e um dos idealizadores do filme), cujo irmão é boxeador. Ele fez essa ponte para eu entrar no mundo dos boxeadores da Zona Leste de SP. Descobri que há campeões sul-americanos que precisam trampar, treinar e competir ao mesmo tempo pra se sustentar. Tem um campeão paulista que é marceneiro. Queria saber mais sobre a história dessas pessoas”, conta o diretor, que viveu na França por 13 anos e confiou na ideia como forma de mostrar “muito do Brasil”.
“Boxe Z/L” tem 15 minutos de duração, com depoimentos dos quatro lutadores da Zona Leste e um “forasteiro”. Todos invictos. “Cada depoimento é um soco”, confessa Weverson, logo revelando que todos os personagens tiveram seu primeiro contato com o esporte de forma, digamos, informal: brigando na rua. “Foi assim que descobriram a paixão por esse esporte, que é terapêutico. Eles se tornaram pessoas menos violentas depois que começaram a praticar. É incrível ver a perseverança dessas pessoas. É uma lição de vida. Eles têm certeza de que são muito bons e não desistem”, comenta o diretor.
No perfil dos protagonistas, prevalece a diversidade: daquele que já está competindo internacionalmente àquele que tem apenas cinco confrontos no currículo, todos de baixa renda e moradores de comunidades. No entanto, para Weverson, o panorama pode (e deve) ser ainda mais diverso. “Também queremos conhecer histórias de mulheres que estão nesse universo. É um meio muito machista. Na nossa pesquisa na Zona Leste de SP, por exemplo, só conhecemos duas jovens que são modelos e praticam boxe há dez anos”, lamenta.
AS ESTRELAS DO RINGUE
Babu (Michel)
Oriundo de uma família de boxeadores, Badu luta há 15 anos. Treinado durante anos pelo próprio pai, está entre os cinco boxeadores invictos do país. Hoje, Badu é pai, marido e toca um projeto social de boxe na Zona Leste, oferecendo a dezenas de jovens carentes a oportunidade de estar num ringue. “Já teve dia em que cheguei em casado treinamento, joguei as luvas no chão e falei: ‘Hoje foi meu último dia’. Mas o desejo de ser campeão é maior e isso que faz a gente acreditar que vai dar certo”, dispara Badu em um trecho do documentário.
Baby Face (Willian)
Irmão de Badu, também foi treinado pelo pai, enfrentando dificuldades similares às encontradas pelo irmão nos seus 15 anos de trajetória. “O desafio mais marcante é você não ter apoio, saber que você tem o potencial e ninguém acreditar, a não ser você mesmo”, desabafa Baby Face em uma cena de “Boxe Z/L”. Único personagem do doc a ter uma luta no exterior no currículo, Baby Face também é professor de boxe, já integrou nossa seleção olímpica e se sagrou duas vezes campeão sul-americano.
Ramela (Paulo)
Pai de um menino de 5 anos, Ramela é fruto do projeto tocado por Badu. Órfão de pai desde muito pequeno, viu a mãe atrás das grades por muitos anos. Já fez parte do time de boxeadores do clube São Caetano e é considerado uma revelação do boxe paulistano. No entanto, apesar do esporte ter salvo a vida de Ramela, hoje ele ainda precisa realizar bicos em construções para se sustentar. “Só de subir no ringue já é uma grande experiência. Meu maior sonho no boxe é voltar pra ele e não sair nunca mais”, projeta o rapaz em um trecho do filme.
Bene (Benedito)
Com um estilo de luta bastante agressivo, Bené nasceu e foi criado na ZL. Profissional, compete como boxeador há seis anos. Invicto, em um de seus combates vitoriosos quebrou a mão numa troca de golpes. Ainda assim, nocauteou seu adversário com a mão quebrada e se sagrou vencedor. Mas apesar de sua trajetória de glórias, o discurso de Bené não soa nada alentador. “O boxe no Brasil é um esporte falido. Se você não tem empresário, não consegue lutar”, desabafa o atleta durante um trecho do documentário.
Cássio
Caçula do grupo, está no boxe profissional há apenas um ano, tendo uma carreira impecável no período em que era amador. Único dos personagens com ensino superior, é evangélico e divide seu tempo entre a fé, o trabalho e o boxe. Para Cássio, o boxeador atua de forma similar à de um jogador de xadrez.
BOXE Z/L - Ficha técnica
Direção: Weverson da Silva
Roteiro: Weverson da Silva e Diego Freire
Produção executiva: Rodrigo Cook
Produção de set: Luis Gustavo Meneghetti Afonso e Gary Gananian
Direção de fotografia: Weverson da Silva
Assistente de fotografia: Murillo Marchesi
Montagem: Gustavo Janz
Finalização: Lucas Negrão
Produção musical: Kelson Diego e André França
Fotografia still: André Sanches
Design gráfico: Lucas Bevilaqua