Converse Big Pool Day: um dia de skate em uma piscina de verdade
Retomando as origens do esporte, campeonato rolou na piscina vazia de clube no interior de São Paulo
Publicado em 07/2017
O I Hate Flash foi até Caçapava, no interior de São Paulo, para acompanhar o Converse Big Pool Day, um evento histórico para o skateboard nacional, que rolou no último domingo (2). A competição aconteceu dentro de uma piscina (de verdade! Daquelas de aula de natação e competição mesmo) construída em 1968, no Clube Recreativo Jequitibá. Com 1 milhão de litros d’água e 4,5 metros de altura na parte funda, a piscina foi esvaziada e usada como uma grande pista.
Para ajudar a gente a entender melhor esse lance de skate na piscina, Ademar Lucas (ou só Luquinhas, ou só Ademar, pode escolher) foi nosso anfitrião. O skatista e fundador do Ademafia, canal no YouTube com mais de 140 mil inscritos, foi do Rio de Janeiro até Caçapava para filmar ao vivo todo o evento no Instagram da Converse.
Ele levou o ‘dress code’ a sério e usou colete salva-vidas, máscara de mergulho e snorkel para a competição na piscina. “Tem que se proteger, né? Não quero me machucar”, falou brincando enquanto fazia graça fantasiado. Como ele está recuperando o joelho lesionado, trocou o skate pelo celular e não participou das manobras, só as filmou. “Essa piscina é muito difícil. Eu, que ando de street, tenho medo”.
Luquinhas contou que fazer aquela competição na piscina era tão importante porque resgatava a origem do skate. O esporte foi criado no comecinho dos anos 60, na Califórnia. Por causa das marés baixas e da seca da região, os surfistas tiveram que migrar para fora d’água, adaptando rodinhas de patins aos ‘shapes’, que eram versões menores das pranchas de surf. Como as piscinas de lá eram construídas com transição (tipo uma rampinha entre o fundo e a parede) e estavam vazias por causa dessa crise hídrica, rapidamente se tornaram a pista perfeita para manobras.
Aqui no Brasil, quase não há piscinas feitas com essa transição. Anos atrás, quando o clube em Caçapava esvaziou a sua para manutenção, viram que ela era inspirada nos modelos da Califórnia e, além de ter a transição em todos os cantos, também tinha uma grande rampa de desnível raso e fundo. Com a descoberta, os skatistas da região piraram!
Em 2014, realizaram lá o primeiro Big Pool Day. Anos se passaram e nunca mais conseguiram autorização do clube para esvaziar a piscina novamente. Afinal, não se pode jogar 1 milhão de litros de água fora, né? Agora, ela passará por uma reforma, já que a lei brasileira não permite mais piscinas públicas com desnível. A boa notícia é que foi possível realizar mais uma edição do campeonato neste domingo. A má notícia é que, com a reforma, a piscina não servirá mais para as manobras de skate e esse foi o último evento com rodinhas ali.
O dia no clube começou às 10h com um aquecimento livre e muito skate voando alto. Daí, veio a competição mano a mano dos 32 nomes, com batalhas em duplas sorteadas no bingo. Nesse primeiro momento, as manobras que mais se destacaram para nosso anfitrião Ademar Lucas foram as dos amadores Victor Süssekind, que deu um ollie (pulo) da borda caindo para a piscina, usando a base de um guarda-sol como obstáculo e Jonny Gasparotto, que usou a escada da piscina como obstáculo.
A gente foi falar com Jonny sobre a manobra. “O mais legal é usar a criatividade e tudo o que tem ali para andar de skate e se divertir”, disse. Otavio Neto foi só elogios ao amigo: “Ele é um dos moleques que mais usa a criatividade e a personalidade que conheço”.
“A gente tem que lembrar que a essência do bagulho é sempre a diversão. Skate é cultura, é estilo de vida”, completa Jonny.
Para Victor Süssekind, a piscina não é fácil e é muito diferente das pistas comuns de skate. “Estar aqui é uma experiência única. Essa piscina foi feita para nadar, esses azulejos estão aí há décadas e agora estamos andando de skate neles. O mais legal do skate é andar em lugares que não foram feitos para ele”, comenta.
No meio da tarde, antecedendo a semifinal, rolou uma sessão de “cash for tricks”, que é quando os skatistas andam todos juntos e, para cada manobra acertada, ganha-se R$ 100. Para isso, acrescentaram altura ao paredão da piscina. Como se já não estivesse difícil o suficiente! E a banda Garage Fuzz embalou as manobras com som ao vivo.
Na final do campeonato, os amadores Jonny Gasparotto e Luiz Mariano fizeram bonito ao encarar os renomados profissionais Otavio Neto, Pedro Barros e Kevin Kowalski, que veio dos EUA especialmente para o evento. Barros e Kowalski, como skatistas convidados, não competiram nos rounds anteriores e foram direto para a final.
A enorme parede ficou pequena. Luiz, com apenas 16 anos, voou tão alto quanto seu ídolo Pedro Barros. Na premiação, em quinto lugar, ficou o americano Kevin Kowalski. Em quarto, Otavio Neto e, em terceiro, Jonny. Luiz ficou em segundo e só perdeu para Pedro. “Foi emocionante competir com profissionais tão renomados. Ganhar do Pedro Barros é muito difícil, então já me sinto campeão mesmo assim”, contou Luiz.
Para Pedro, “a sensação de ter andado ali com skatistas do mundo todo é única. Foi difícil, mas também muito divertido e é isso que vale no final das contas”.
O dia acabou em festa. A galera toda entrou na piscina e curtiu o show da banda Black Donalds. Ademar, que ainda estava de colete salva-vidas, se despediu da gente emocionado. “Me sinto privilegiado de ver de perto isso acontecer. Rolou uma energia cabulosa. Fico honrado de estar aqui, foi histórico”, finalizou. E nós fazemos coro: obrigada nós, piscina do Clube Recreativo Jequitibá <3