Como fizemos uma festa do zero
Um papo sobre I Hate Mondays, Love2Hate e a vontade de realizar
Publicado em 08/2023
A primeira festa que fizemos foi a I Hate Mondays, mas a gente já frequentava e muitos de nós tocavam em outras festas. Aí tivemos um convite pra pegar uma data vaga às segundas-feiras na extinta Boate Cave. Pensamos que poderíamos fazer um teste e reverter aquele senso comum de odiar segundas. E já que curadoria tem muito a ver com o que a gente faz em todos os trabalhos, a curadoria de DJs também fazia muito sentido.
Essas escolhas por artistas que a gente já gosta foi natural porque já estávamos inseridos no meio e, além de querer ajudar a projetar essas pessoas, a gente também queria ter a oportunidade de convidar atrações super especiais. Num primeiro momento os famosos afters na praia foram espontâneos, e depois viraram parte oficial e obrigatória quando assumimos como parte do line e da festa. Os testes deram certo muito rápido e então nascia uma das nossas festas preferidas no mundo.
Desde o começo, a ideia foi ter lines mistos e isso não era realidade nas festas que já rolavam. Hoje em dia o equilíbrio de mulheres e homens nos lines é mais comum (apesar de ainda estar longe do que seria o justo, né?), mas durante um tempo as festas do IHF eram as únicas que tinham. Isso porque a gente sempre teve como condição inegociável no mínimo esse equilíbrio, promovendo inclusive edições somente com mulheres no line-up. Além disso, queríamos muito dar a oportunidade para uma galera talentosa, em especial de outros lugares fora do eixo Rio e SP, que tinha esse interesse tocar em festas mas estava buscando um lugar pra começar. Trouxemos também uma galera da gringa aproveitando que estariam no Brasil para outros eventos, e também fizemos pontes para que elas tocassem em vários lugares. A I Hate Mondays já rolou em Salvador, Rio, SP e só quem viveu sabe... O estilo de som sempre tem a ver com curadoria e gosto pessoal. Não nos limitamos a estilo, mas há um consenso da galera por vertentes de música eletrônica em suas diversas vertentes do funk, passando pelo reggaeton, mas bem inclinada pelo tipo de musica eletrônica produzida no Brasil.
Em certo momento já tínhamos a IHM consolidada, mas deixávamos de fazer festas porque ela só acontecia às segundas. Além disso, a I Hate Mondays conceitualmente envolvia também um after, o que acabava limitando o local onde faríamos a festa. Mas aí a gente resolveu mudar essa história. Em 2014, para um after do Lolla, criamos a Love2Hate. Nesta festa buscamos fazer muitas parcerias com outras festas e projetos, tendo um som com uma pegada pouco menos comercial, com mais liberdade de experimentar. Tem ideia de tudo que já aconteceu nessa festa? Deixamos aqui um link pra você relembrar.
Nesse tempo de vida já fizemos edições tão épicas que ficaram guardadas na memória do staff e temos certeza que do público também. Quem lembra daquela Love2hate que convidou Rincon Sapiência no Bud Basement? Lugar incrível, festa lotada em plena quarta-feira na abertura do Bud Basement. E aquelas edições na sauna? É claro que seria o lugar perfeito pro fervo, não é mesmo? Tivemos também as inesquecíveis afterparties do Lollapalooza com Diplo, Skrillex, Halsey, A-track...
Já de I Hate Mondays menção honrosa para as históricas de carnaval, em especial a última que foi bonita demais. As primeiras edições também são super nostálgicas, porque foi quando caiu a ficha de que estava rolando um novo movimento de festas no Rio, com direito a matérias de jornal e muitos jovens mergulhando pelados na praia.
Tudo isso aconteceu e acontece porque a gente sempre esteve muito ligado, pessoal e profissionalmente, com música. Então shows, festas e festivais sempre fizeram parte dos nossos interesses. Conhecendo tanta gente maneira e curtindo tanto esse cenário, não fazia sentido não entrar nesse circuito. Essa investida nos eventos foi algo muito natural pro I Hate Flash e assim que continua acontecendo. Seguimos sem calendário fixo, mas com muitas possibilidades. É a nossa forma de matar o desejo de fazer um evento bem do jeito que a gente gostaria de ir. Então se não tem a gente vai lá e faz, né?
Mas afinal, como criar uma festa do zero? Tem muitas maneiras, mas o famoso "vai lá e faz" funcionou muito pra gente. Ter gente da produção que também toca ou é muito familiarizado com o universo da música é um baita diferencial. Mas a verdade é que se você tem um equipamento mínimo, boa música e gente com vontade de fazer, qualquer encontro pode virar uma festa. Começar sem uma grande estrutura é super viável, mas claro que se a intenção for crescer e ganhar mais estrutura esse também é um plano muito válido.
Todo mundo deve desconfiar que maior desafio de fazer uma festa virar é a grana. Se não tem uma grana inicial, um investidor ou patrocinador é muito difícil que a gente possa se dar ao luxo de fazer questão de coisas que sabemos que custam (bastante) dinheiro. A gente obviamente sempre quer ter um equipamento e qualidade de som incríveis, pagar o valor que cada artista acredita que seu trabalho vale, mas muitas vezes dinheiro é algo que faz com que tenhamos que fazer algumas escolhas e concessões. Mas não é nem pode virar impeditivo.
Dá sim pra fazer uma festa com quase nada, mas que sonho é poder fazer uma festa com tudo, né?