Carnaval Internacional da Mulher
Que essa fantasia de alegria, liberdade e respeito seja eterna
Publicado em 03/2017
No vagão do metrô, seguindo para o Centro para pegar as barcas com o bloco Pérola da Guanabara, que rolou em Paquetá, avistei um grupo de homens visivelmente heterossexuais, classicamente vestidos de pedreiros, segurando cartazes que, curiosamente, diziam: “Os maiores pedreiros que respeitam VOCÊ!" e "O nome dela não é PSIU!”
Sorri, achei graça na fantasia e eles se despediram desejando a mim e à minha namorada um ótimo bloco. Pensei comigo mesma: “o respeito à mulher pode não estar em dia, mas parece estar em pauta. Que bom!”.
Assim começou meu Carnaval. Mas eu não vim falar deles. Eu vim falar delas. Elas que muitas vezes são bem quistas se estiverem “fáceis”, mas que serão mal vistas se insistirem em se divertir. Não entendeu? O Brasil é o país em que mais de 60% dos homens afirmam que uma mulher que pula Carnaval sozinha não pode reclamar de assédio.
Na contramão deste dado, “NÃO É NÃO” parecia um carimbo nos corpos de muitas foliãs para, pelo visto, deixar mais claro que querer se divertir não é um convite. Por isso, nesse Carnaval resolvi pegar minhas câmeras analógicas e registrar somente a alegria delas. Porque por elas deveríamos ter o maior dos respeitos, não importa o dia ou a época do ano.
De trás para frente na minha trajetória de blocos, o ultimo que fotografei foi o Mulheres Rodadas, primeiro bloco feminista do Rio, fundado no fim de 2014 pelas jornalistas Renata Rodrigues e Debora Thome. Durante a concentração, o sentimento era de leveza e alegria, mulheres estavam por toda parte e eu senti que não havia porque me preocupar. Mas fora da praça a conversa é diferente e os olhares são outros. Como a própria Renata Rodrigues me descreveu enquanto conversávamos sobre mulheres e o Carnaval, “o nosso bloco virou um espaço de acolhimento para mulheres e suas trajetórias. É um espaço muito privilegiado. Na rua, até chegar no bloco, bom, eu estava quase nua. Me senti exposta e invadida”.
O corpo da mulher tem assumido identidades próprias fora de qualquer padrão que tentem nos impor. E no Carnaval, mais do que em qualquer outra época, festejamos isso. Eu pude perceber que as mulheres parecem estar se amado cada vez mais. De todas as idades, formas e formatos, hoje podemos exclamar que juntas somos mais fortes. Porque somos.
Mas a maior festa popular do mundo tem sua identidade formada nas ruas, entre diálogos e tensões. Muitas tensões. E não é fácil exibir seu corpo em uma fantasia sem que julgamentos sejam feitos a respeito. Não é fácil simplesmente decidir sair sem ser em grupo e ser quem você quiser ser sem que tentem te dizer como você deveria agir - ou pior: deixar de agir. Já diria Cindy Lauper “garotas querem se divertir”. Mas se isso é visto como uma afronta, então nossa diversão será nossa forma de protesto.
Feliz Dia Internacional da Mulher. Hoje e sempre, um brinde a todas nós.