Eu quero é botar o bloco 'Não é não' na rua
Campanha de financiamento coletivo quer espalhar o movimento feminista folião por cinco estados em 2018
Publicado em 09/2017
Mais do que fantasias de unicórnios e sereias, o Carnaval de 2017 foi dominado por um grito, um manifesto silencioso e purpurinado: “Não é Não!”. O corpo das mulheres virou outdoor contra o assédio na festa da carne. Mas você sabe de onde vieram as tatuagens temporárias que dominaram a folia? Das ideias (e bolsos) de Barbara Menchise, Aisha Jacob, Julia Parucker, Nandi Barbosa e mais 36 mulheres, que custearam a produção das 4 mil tattoos distribuídas gratuitamente em alguns blocos de rua cariocas.
A principal motivação do projeto surgiu quando uma das idealizadoras passou por um episódio de assédio, o que desencadeou um debate entre elas sobre como essa é uma situação, infelizmente, comum e assustadora.
“Veio à tona a necessidade de fazer alguma ação protetora e que desse visibilidade ao assunto. Uma ação de mulheres para mulheres, que nos identificasse no Carnaval e trouxesse a discussão dessa questão de assédio. Pensamos numa tatuagem temporária para utilizar o próprio corpo como forma de resistência e militância, sem deixar de entrar no clima lúdico e divertido do Carnaval”, explicam. Apesar de curta, a frase não foi escolhida por acaso e visa abranger várias pautas feministas, como estupro, aborto e direito de escolha, além do assédio.
Da fagulha surgiu um grupo no Facebook, que hoje já conta com 57 mulheres, que tocam o projeto de forma colaborativa. Por exemplo, Nandi é a designer responsável pelas artes, Camila Othon e Barbara Menchise, fotógrafa e editora do vídeo, respectivamente, Aisha Jacob e Luiza Borges, produtoras da campanha, Ana Rios, Elisa Mendonça e Julia Parucker colaboradoras ativas.
Para o próximo ano, a ideia é expandir a campanha e, inclusive, chegar a outros estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia. Há algumas semanas, nasceu no Benfeitoria uma campanha de financiamento coletivo para colocar o bloco na rua, baseada em três metas.
A primeira é arrecadar R$ 7.500 para manter a distribuição de 5 mil tatuagens apenas no Rio, a segunda pretende angariar R$ 18.300 para levar cinco mil decalques aos cinco estados foliões e a terceira, R$ 33.900 para distribuir 10 mil tatuagens em cinco estados e também realizar um evento de celebração e conscientização.
“Estamos montando uma rede de colaboradoras e parceiras de blocos e coletivos feministas nos cinco estados. O intuito dessa rede é divulgar a campanha este ano e distribuir as tatuagens no Carnaval do ano que vem”, explica o time, que está super a fim de novas parcerias para somar nesse bloco!
Por enquanto, os blocos confirmados para jogar confete e serpentina com “Não é Não” são Tambores de Olokum, Mulheres Rodadas e Pipoca e Guaraná no Rio de Janeiro; Vaca Profana e A Safada, de Olinda. Ritaleena e Charanga do França, de São Paulo; Bruta Flor e As Minas do Carnaval de Belô, de Belo Horizonte; ONG Tamo Juntas, de Salvador e o Baque de Mulher, que tem sua sede em Recife e está presente em vários outros estados.
“Adoraríamos que esse movimento se perpetuasse e fortalecesse mais e mais. Nosso sonho é que um dia a gente não precise mais estar à frente desse projeto, esperamos que as pessoas se conscientizem do óbvio, a ponto de que o projeto se torne desnecessário”, torcem. Enquanto isso, bora colocar esse bloco na rua! As doações podem ser feitas nesse link, no Benfeitoria.