Mulheres que fotografam: Naiara Jinknss
A paraense que faz de Belém sua modelo favorita
Publicado em 01/2018
Se tem uma coisa que nos deu orgulho, coração cheio e inspiração em 2017 foi a seção Mulheres Que Fotografam, que divulga e enaltece o trabalho de fotógrafas incríveis do Brasil e do mundo. Quanta lindeza, quantas mulheres incríveis.
Até que percebemos uma mancada: a maioria das profissionais que mostramos nasceram ou moram no eixo Rio - São Paulo, e quanta gente incrível tem nesse Brasilzão! Então, começamos 2018 explorando o país. O Mulheres Que Fotografam tá com malinha de bordo pronta e milhas tinindo pra viajar pelo Brasil, então indica aqui nos comentários mais fotógrafas que precisamos conhecer, do Oiapoque ao Chuí.
Nossa primeira parada é em Belém do Pará, através do trabalho da paraense Naiara Jinknss, que tem as pessoas e espaços da capital como seus modelos favoritos. De crianças a idosos, da beira do rio à comunidade, além, é claro, do Mercado Ver-o-peso e seus arredores - quase dá pra sentir o cheiro das ervas e peixes através das fotos, que você vê aqui.
Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Meu primeiro contato com fotografia foi aos 18 anos. Passei boa parte da minha vida acreditando que prestaria vestibular para jornalismo, mas poucos meses antes da prova comecei a me interessar por fotografia. Desde esse momento, busquei por cursos específicos de fotografia e não encontrei nada (antigamente, em Belém, era difícil de encontrar cursos como este). Depois de algumas pesquisas, encontrei o curso de Artes Visuais da Unama, que oferecia três semestres de fotografia. Não pensei duas vezes e acabei cursando. No primeiro semestre, minha avó me deu de presente minha primeira câmera profissional, e desde daí não paro de fotografar.
Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Sempre trabalhei com fotografia e quase sempre de forma independente. Mas, quando fui morar no Rio, trabalhei como recepcionista em uma academia. Quando descobriram que eu fotografava, passei a trabalhar com o Marketing deles. No ano seguinte, comecei a trabalhar em outra academia, só que de lutas.
Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? Só fiz um curso de fotografia fora da faculdade, de iniciação à fotografia. Era algo bem básico, mas me ajudou a conhecer o processo analógico fotográfico. Mas nunca me acomodei, sempre acreditei que depois de um filme, desenho ou música, não somos mais os mesmos. Então, buscava evoluir estudando e consumindo o máximo de informações possíveis.
Qual equipamento você usa? Fotografo com uma Canon, com uma câmera analógica e com meu celular. Sempre busco fotografar com, pelo menos, dois equipamentos.
O que você mais curte fotografar? Eu gosto de tantas coisas. Mas atualmente procuro fotografar situações do cotidiano e pessoas que eu me relaciono. Os lugares que me apresentam...
Acho que o que eu mais gosto de fotografar são emoções reais e, de alguma maneira, acabar provocando quem observa minhas imagens.
Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Tenho trabalhado em dois projetos atualmente, mas eles ainda estão em criação. Tudo ainda é muito novo, tudo ainda precisa ser observado e estudado. Pra eu desenvolver qualquer trabalho, é indispensável a troca, as relações. Quanto mais eu me aproximar das pessoas e de suas histórias, mais posso fotografar.
Desde que comecei a fotografar, me apaixonei pelo Ver-o-Peso. O Ver-o-Peso é a maior feira da América Latina e é de onde vêm as ervas, os peixes, o açaí que abastecem parte de Belém. É uma feira que não dorme nunca. E venho registrando a rotina dessa feira desde o início da minha carreira. Fotografando os vendedores, os peixeiros, os andarilhos e quem mais transitar por esse lugar. Algumas pessoas se tornam amigas, outras eu só fotografo uma vez e desaparecem.
Meu outro objeto de pesquisa é a comunidade da Terra Firme, que fica em Belém também. Trabalho registrando o cotidiano de pessoas em situações de risco. Assaltantes, traficantes, moradores, alguns terreiros de resistência. Também realizo algumas oficinas gratuitas para os moradores, ações sociais para arrecadar doações.
Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. Acho que a mulher que mais me inspirou foi minha avó. Que sempre batia de frente quando queria alguma coisa e era bastante teimosa. Acho que ela não soube o quanto me influenciou.
Em segundo lugar vem Clarice Lispector, que me ensinou conceitos básicos de justiça e empatia.
Na fotografia, minha primeira referência veio através de uma tia distante na época, chamada Leila Jinkings. Mas depois que conheci o trabalho da Nair Benedicto, Vivian Meier e da Nan Goldin, acho que nunca mais fui a mesma.
Mas a última mulher que me inspirou foi Elza Soares, com o CD “Mulher do fim do mundo”. Fiz uma releitura através de uma série chamada “Mulheres do fim do mundo – Cada coração é um universo”.
Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia no Brasil? Acredito que precisamos ocupar todos os espaços. Buscando compreender a importância da sororidade. Acredito que fotografia é comunicação, linguagem não-verbal. E, no meio de tantas histórias, cuja maior parte, quase sempre, é masculina, precisamos fortalecer a representatividade feminina em todas as áreas - e na fotografia não pode ser diferente.
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Pra ver mais e acompanhar o trabalho da Nai, segue lá no Instagram.